Sou podre.
Estou podre.
A pele que me cobre se desfaz.
Os órgãos definham.
Ciclo após ciclo.
As criaturas morrem e se refazem.
Sinto:
O deslocar das larvas.
O alimentar das pragas.
O eclodir dos ovos.
A vida e a morte me habitam.
Travo uma batalha a cada respirar.
Vermes frescos são meus, involuntários, alimentos.
Cistos comandam meu pensar.
A cada micélio formado, noto o expandir do câncer.
O emaranhado de hifas sufoca a Aorta, entope as
veias e colocam fim às batidas.
A guerra foi perdida.
As criaturas retornarão para a terra fria.
A carcaça será desabitada durante o definhamento.
Do resto fétido, a vida se formará e os vivos se
alimentarão dos mortos.
O que era somente pó retornará a desempenhar a
maldita função do caminhar.
Marco Aurélio Gomes Júnior.